sábado, 28 de junho de 2014

Substantivos próprios: Por que em muitas das vezes eles não são traduzidos?

Uma tradução é feita quando determinada palavra possui uma com significado equivalente ou próximo em outro idioma, porém, há a possibilidade da mesma palavra não exprimir o real significado da estrangeira, ou então simplesmente sendo  impossível traduzir. Um bom exemplo é a palavra realm do inglês. Ela é comumente traduzida como reino para o português, porém não significa exatamente isso. Realm abrange uma esfera mais abstrata de influência, um domínio, não sendo equiparado à kingdom, que denota um Estado governado por um rei ou rainha.

Em função de termos não traduzíveis ou adaptáveis, transliterações fonéticas e palavras de origem arcaica, alguns substantivos próprios não são traduzíveis, e outros são meramente adaptados. Porém, todos eles derivam de substantivos comuns, só que esse tipo de onomástica (ramo da linguística que estuda os nomes) só é presente nas línguas da Antiguidade, como o latim clássico, proto germânico, grego clássico e outros da mesma época. Esse tipo de referência não é achado hoje em dia porque nossos idiomas evoluíram de uma forma e os nomes continuaram tendo a mesma sonoridade, não dando espaço para analogias.

O nome Renato, por exemplo, vem do latim Renatus, que significa literalmente renascido (re + natus). Áustria é a forma como um falante do latim ouvia um germânico falar Österreich - algo como "Reino do Leste" öster (leste) + reich (reino/estado). Março vem do latim martius, que é locução adjetiva de Mars, o deus da guerra. O mês recebeu esse nome por ser quando os romanos começavam as campanhas militares quando o inverno definhava. Austrália deriva do latim australis que é locução adjetiva de auster (sul). 

Os topônimos (nome de local) Alemanha, Deutschland e Germany possuem origens diferentes, porém seus nomes estão vinculados à maneira que um povo em específico chamava as terras do norte dos Alpes e sul da Jutlândia. Os romanos introduziram o termo germanus a partir de como os celtas da Gália chamavam os povos que habitavam o leste do Reno, e a partir disso nomearam aquelas terra por Germania, que originou o Germany inglês. Um certo grupo de tribos germânicas eram chamados de alemanni no latim, e disso os francos deram o nome de Allemagne ao local, nascendo o  Alemanha do português. Pegando as origens etimológicas da palavra deutsch podemos chegar ao alemão antigo diutisk, que significa "popular/do povo", portanto, Deutschland significa "terra do povo" se traduzido literalmente.

England (inglês), Anglia (latim) e Inglaterra (português) significam exatamente a mesma coisa: terra dos anglos. Nestes topônimos, as traduções batem exatamente com o sentido da palavra, sem necessidade de serem mantidas as grafias originais.

Como puderam observar, uma tradução nem sempre representa exatamente aquela palavra, e um povo não identifica certo lugar da mesma forma que um outro o faz. Ademais, é sempre bom tentar compreender o que certa palavra significa, e não tentar traduzi-la.

4 comentários:

  1. Bem, já dizia Roman Jakobson que a tradução é, de certa forma, problemática, por que uma língua é uma identidade de um povo, uma forma única e singular de expressão. Jamais a tradução corresponderá ao exato significado em outra língua. Mas sempre o tradutor buscará a melhor forma de dizer isso na língua traduzida.

    Ótimo post!

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    1. Exatamente, Loh! Eu acho um erro tremendo tentarem traduzir certas coisas, porque elas são por natureza intraduzíveis.

      Obrigado por ler e comentar!

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  2. Maravilha, Igor! Tudo a ver com nossas discussões sobre o valor do sigo linguístico, não é?
    Eu só penso que a peculiaridade das línguas não barra a tradução, pelo contrário, faz dela um trabalho de versão/interpretação.

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